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EM FALSO



A vida em si não é a realidade.
Somos nós que pomos vida em pedras e seixos.

Frederick Sommer


Pensar a imagem como um fenômeno poderoso na sociedade atual é talvez a intenção maior das pesquisas de Simone Cupello. O olhar da artista, treinado na cenografia e edição de vídeos para TV, se debruça constantemente sobre o comportamento do homem em relação ao meio imagético que o cerca, acolhe e modifica. A fotografia impressa, ao mesmo tempo imagem e objeto, se presta a
reflexões múltiplas sobre os limites entre realidade material, imaginário e questões relacionadas ao consumo de imagens, dentro de uma proposta surpreendente, corajosa e, de certo modo, única.


EM FALSO, reúne obras que a natureza e os Jardins românticos do Museu da República inspiraram e ensinaram. “Entendi com a pedra falsa do rocaille que posso ter a figura se a figura falar de matéria”, afirma a artista sobre a representação da matéria, sobre texturas, tempo e memória.


Fotografias são fragmentos de uma determinada forma de ver o mundo, um recorte preciso que enquadra na bidimensionalidade uma ruptura temporal, indicando que algo aconteceu ou esteve ali por determinado tempo. Susan Sontag, entretanto, sinaliza sobre o destino das fotografias tiradas exaustivamente e que terão, certamente, pouco tempo de vida útil. “O que vai ser de um maço de fotografias daqui a 500 anos?”, questiona Simone diante do acervo de imagens com as quais trabalha, interfere, experimenta e aprende sobre seus antigos usuários. Ao recortar fotografias, unindo-as por fios visíveis, confere a elas uma nova dimensão, produz novas texturas e diferentes funções. Deslocando os sentidos, empresta leveza à imagem para que o ar possa passar através dela. Infinitas são as possibilidades quando a realidade é fisicamente transformada, quando se pretende ressignificar o real.


Mas o que é real no que observamos? O que foi construído ou deslocado? Galhos de árvores, pedras e fotografias em papel adentram espaços inusitados, conversam com paredes de alvenaria, criam ilusões e inventam histórias aos espectadores desavisados. O tridimensional, que sempre esteve nos trabalhos de Simone Cupello, surge nos casulos que descem do teto, nas pedras produzidas com fotografias coladas, prensadas e esculpidas. Tudo é real, tudo é matéria para se refletir, tudo é imagem que reside nas coisas.

Isabel Sanson Portella

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